sexta-feira, 25 de julho de 2014

O MALFADADO CITY TOUR EM TIRADENTES



*Jô Drumond
Normalmente, ao visitar uma cidade desconhecida, o turista começa por um city tour guiado, para ter ideia do todo. Posteriormente, escolhe os locais a ser revisitados, a seu bel prazer. É o que sempre faço em minhas andanças mundo afora, e foi o que aconteceu na cidade Tiradentes (MG), berço do inconfidente Joaquim José da Silva Xavier, fundada por volta de 1702, quando se descobriu ouro na região. 

Em meu primeiro dia nessa charmosa cidade, ao sair do hotel, situado na principal praça da cidade, fui abordada, juntamente com meus companheiros de viagem, por um jovem que oferecia um city tour, numa charrete cor-de-rosa, de quatro assentos, forrada com tapete artesanal e puxada por um belo cavalo. 

Embarcamos nesse deleite. Outro rapaz juntou-se a nós, tomou as rédeas e se pôs a repetir como uma matraca, com péssima dicção, o texto que havia decorado para mostrar a cidade aos turistas. O fato de não articular bem as palavras dificultava nossa compreensão. Pedíamos em vão, que diminuísse a velocidade da fala. O que mais nos incomodava nele era um cheiro nauseabundo de suor que emanava de seu corpo; uma fedentina insuportável capaz de provocar enxaqueca em turistas de olfato sensível. Ao chegarmos à principal igreja pudemos descer, pela primeira vez, para visitar o interior o monumento, segundo ele, o segundo templo mais rico em ouro, do Brasil. 

Ao retomarmos os assentos cor-de-rosa, fomos surpreendidos pela troca de guia. Sentimo-nos aliviados, livres do mau cheiro, e esperávamos que esse se expressasse mais claramente que seu colega. Ledo engano! Tinha um dos maiores problemas para alguém que escolhe esse tipo de trabalho. Era completamente gago. Ao ouvi-lo, olhamo-nos discretamente uns aos outros com ares de troça. Nada perguntamos, para evitar constrangimento. Ele pouco falou. Diferentemente do primeiro, batia vigorosamente no traseiro do animal com uma vara. O guia anterior apenas balançava a rédea, emitia um ruído com a voz, e era prontamente atendido.

Catinga e gagueira foram apenas pequenos incidentes de percurso, comparados a algo mais sério, que merece a atenção da sociedade protetora dos animais. O antigo calçamento das ruas, feito com pedras irregulares, é impróprio para ferraduras. O cavalo avançava aos tropeços, escorregando a cada passo e, às vezes, caindo de joelhos nas descidas escorregadias. Esforçava-se ao máximo puxando a pesada charrete ladeira acima e freando com o próprio corpo, ladeira abaixo. Além disso, havia a punição das varadas sobre o lombo, após cada escorregão. Uma verdadeira tortura.

Não me contive. Sugeri ao “charreteiro” que colocasse uma proteção de borracha, ou de qualquer outro material antiderrapante em volta da ferradura, para evitar o sofrimento do animal. Respondeu-me que seria inviável devido ao rápido desgaste do material em atrito com as pedras.
Fica aqui um apelo para que se criem, o mais rapidamente possível, resistentes capas antiderrapantes para ferraduras de quadrúpedes obrigados a subir e descer ladeiras carregando peso, naquele tipo de pavimentação.
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3 Academias de Letras
 (AFEMIL, AEL, AFESL) e do Instituto Histórico (IHGES