segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

ASAS QUEBRADAS

Por Jô Drumond

A ampulheta se esvazia
a certeza se enche de dúvidas
meus versos se descompassam
na arritmia do coração
Quanto tempo me resta, doutor?
Como dissipar meu desassossego?
Tenho pressa em descobrir o mundo
prenderei meus anseios dentro do espelho
viajarei na linha sinuosa do horizonte
atravessarei os lindes do imponderável
largarei as amarras do viver
antes que o nada se apodere de meu ser

ARRITMIA

Equilibro-me na fronteira
Entre o tudo e o nada
Agarrada ao corrimão do tempo
Meu coração anda trôpego
Sem ritmo, sem compasso
Minha vida também anda trôpega
Cambaleando entre porquês
Não busco definições nem soluções
Tento apenas prolongar os dias

VENTANIA

Observo a ventania
Recriando nuvens em céu varrido
Espalhando incertezas vida adentro
Tecendo dores em meu peito
Penduro os anseios
Na grimpa do ingazeiro
Encerro os medos
No oco da coragem
Sinto-me forte
Para enfrentar a morte
Nos enleios do agora
Parto mundo afora
Pintando as cores do infinito
E os contornos do nada
É preciso apagar a luz
Para enxergar as trevas



*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond) 
Membro de 3 Academias de Letras 
AFEMIL, AEL, AFESL) e do Instituto Histórico (IHGES